Fitxa de companyia

Instàvel-Vandekeybus

Direcció: R. S. Roque de Lameira, 2129, 4350-317
Població: Porto
Telèfon: 351 225 108 531/ 351 918 283 346
E-Mail: c.instavel@mail.telepac.pt


Fitxa tècnica

Dirección: Vandekeybus, Wim


Detalls


Companhia Instável é um conceito baseado na precariedade e efemeridade: uma Companhia que trabalha por projecto. Cada ano é convidado um coreógrafo de renome internacional que selecciona os bailarinos por audição e cria ou remonta um trabalho para aquele grupo. A peça é estreada, circula tanto quanto possível e a companhia desfaz-se, até se reconstituir uma nova.
Este modelo efémero tornou-se uma mais-valia ao permitir abranger um grande número de jovens intérpretes (53 até ao momento), oferecendo-lhes uma experiência profissional única com vários criadores da actualidade e funcionando, também, como plataforma ao despoletar talentos e motivar ligações com o mundo profissional.
Nesta 7ª edição da Companhia Instável, conseguimos atingir uma das maiores extensões do projecto. Uma das razões desta dimensão prende-se com a relação estabelecida com os co-produtores: TNSJ e a companhia belga de Wim Vandekeybus - Ultima Vez, mas o principal motivo é indubitavelmente a apresentação de um dos criadores mais reconhecidos da actualidade, assim como de uma das peças mais emblemáticas da dança contemporânea.
Uma digressão europeia de 7 meses, com mais de 50 espectáculos, abrangendo 10 cidades em Portugal, cumpre com um dos principais objectivos deste projecto: o de oferecer oportunidades profissionais a jovens intérpretes. Nesta edição, procuramos também desenvolver outro objectivo: o de estender a acção da Companhia. Entre outras actividades, a par com a apresentação do espectáculo, procuramos oferecer formação a outros intérpretes nas cidades portuguesas que acolhem o espectáculo.
Um elenco internacional, provocando uma contaminação de experiências, num projecto que, dentro de uma instabilidade permanente, se tem tornado cada vez mais estável.
Ana Figueira
Directora da Companhia Instável


Wim Vandekeybus - A obra
Movimento/Dança
"Um regresso a algo de real no movimento, a que outros mais tarde chamaram dança". Eis a definição, sucinta e algo provocadora, que Wim Vandekeybus nos dá do seu próprio princípio básico. Provocadora por recusar a palavra que mais obviamente descreveria o seu trabalho. Ao ser entrevistado, costuma pôr em questão conceitos como "dança" ou "coreografia", preferindo usar palavras ligadas ao teatro: descreve-se como "encenador" e chama "peças" às suas performances. A propósito de 7 for a Secret never to be told (1997), declarou, ao ser entrevistado por um jornal alemão: "interessa-me menos a dança pura do que aquilo que pode ser expresso pela dança". Porquê este problema com o vocabulário da dança? Tal cepticismo relacionar-se-á indubitavelmente com o facto de Vandekeybus não possuir qualquer formação específica em dança. Quando selecciona os seus bailarinos, a formação ou a experiência de dança não são os critérios mais importantes (se bem que, ao longo dos anos, dançarinos formados e profissionais tenham integrado o grupo Ultima Vez). Vandekeybus dá especial importância à personalidade do bailarino. Saïd Gharbi, um marroquino cego com quem até agora realizou cinco performances, é talvez o exemplo mais óbvio de alguém que foi seleccionado sem ter tido formação profissional em dança, mas que traz consigo um mundo e linguagem de movimento muito pessoais. Seja como for, é óbvio que a linguagem de dança de Vandekeybus não se desenvolveu inicialmente dentro de um diálogo com as tradições moderna e clássica da dança, ou como uma reacção contra estas. Vandekeybus vai buscar inspiração a outras áreas: a sua familiaridade com animais, a luta-dança estilizada do tango, o esforço físico, o risco físico, o mundo bizarro e mágico de escritores como Paul Bowles, Italo Calvino, Milorad Pavic, Julio Cortázar... À medida que o seu trabalho se vai desenvolvendo, torna-se óbvio que a sua motivação criativa é a expansão e aprofundamento do seu próprio mundo mitológico, e não a procura de um vocabulário de dança autónomo.

Virtuosidade/Vulnerabilidade
As performances de Vandekeybus são uma dramatização do perigo, do risco a que o corpo se entrega. O bailarino força o seu corpo até aos limites do perigo, e para além destes: aqui, terá de confiar nas suas reacções instintivas ou nas dos outros corpos em palco. Quando um bailarino salta, lançando-se horizontalmente do solo para o espaço, não tem outra hipótese senão confiar nos seus instintos ou em que outro bailarino o consiga segurar no momento certo. O momento em que um bailarino permite que a sua segurança, a sua estabilidade (e, até certo ponto, a sua identidade) deixe de estar nas suas mãos é definido, nas palavras de Vandekeybus, como uma "catástrofe imaginária": aquele momento em que a fantasia recebe rédea solta para imaginar uma catástrofe possível. A catástrofe é algo que pode acontecer a qualquer momento, alterando radicalmente a nossa existência. A catástrofe é algo que não podemos prever nem racionalizar. Num momento, não se passa nada; no momento seguinte, ocorre a catástrofe. Vandekeybus menciona muitas vezes a expressão inglesa "falling in love" [apaixonar-se] - sublinhando o "falling" [cair]. O título da sua segunda performance, Les Porteuses de Mauvaises Nouvelles (1989), inclui um desses momentos: a tensão física e emocional do mensageiro logo antes de comunicar as más novas. O momento de tensão contida que precede a explosão.
O aspecto "imaginário" da catástrofe é importante. O corpo está em jogo no mundo de Vandekeybus, mas este mundo está também sujeito a uma série de regras, uma série de cálculos. Em What the Body Does Not Remember, a cena em que um bailarino lança uma pedra ao ar e se deixa ficar parado logo por baixo dela até que outro bailarino o puxe ou empurre para fora dali é um exemplo típico de uma cena do período inicial de Vandekeybus. A complexa organização do tempo e do espaço é executada na perfeição, enquanto a coreografia se caracteriza por um desprendimento prenhe de risco. O corpo concentra em si tensão, ameaça, acaso, impulsividade, flexibilidade e cálculo, e tudo isto ao mesmo tempo. "Não executamos uma tragédia, mas sim puro movimento", afirma Vandekeybus.
O ênfase dado à energia, velocidade, precisão, resistência e exaustão físicas nas performances de Vandekeybus tem levado a que estas sejam muitas vezes descritas como "espectaculares e ricas em virtuosismo", o que pode ser lido como "acrobáticas e totalmente descomprometidas". Mas a "catástrofe imaginária" não força apenas o corpo a ir até aos limites extremos da sua resistência e capacidade; força-o também a reconhecer e aceitar a sua vulnerabilidade e fragilidade. A virtuosidade apresenta sinais de poder, mas também de vulnerabilidade; de controlo, e também de entrega. Trabalhar com bailarinos cegos é outra forma de demonstrar essa vulnerabilidade. Her Body Doesn't Fit Her Soul não é uma demonstração das capacidades dos "invisuais". A corda esticada à frente do palco é um ponto de referência tangível, que permite aos bailarinos cegos saberem onde termina o estrado. A cegueira torna-se numa metáfora para aquela fronteira entre segurança e vulnerabilidade que a dança de Vandekeybus procura. O corpo vai até ao limite das suas possibilidades físicas (num salto) ou é colocado numa posição perigosa (sob pedras em queda). Chega-se a um ponto em que o corpo tem de entregar-se cegamente àquilo que já não consegue recordar: aos seus próprios instintos (que asseguram que o corpo em queda chegue ao solo em segurança, sem se ferir) e à confiança noutro corpo próximo (que possa retirá-lo a tempo debaixo da pedra em queda). A catástrofe não se limita a forçar o bailarino a ir ao limite das suas forças e capacidades; confronta-o igualmente com a sua própria vulnerabilidade. A catástrofe mostra o momento em que o poder enfrenta as suas próprias limitações, o que o leva a reconhecer e admitir a sua própria fragilidade.

Espectacles

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